No Nordeste e nas cidades do litoral brasileiro, o pterígio é quase endêmico e causa cegueira porque a "carne que cresce no olho" cobre a pupila.
Causado pelo excesso de exposição ao sol, o pterígio é um processo degenerativo da conjuntiva que pode se estender até a córnea, causando distorção da visão. “Popularmente, é conhecido como "carne no olho", "vilídea" e, muitas vezes, é erroneamente classificado como "catarata". No entanto, pterígio e catarata são patologias distintas”, esclarece o oftalmologista Virgilio Centurion, diretor do IMO, Instituto de Moléstias Oculares.
Na maioria dos casos, o pterígio aparece no canto interno do olho e, em raras ocasiões, no canto externo. O pterígio acomete indivíduos que habitam principalmente países de clima tropical, localizados próximo à linha do Equador e que trabalham expostos ao sol. “O pterígio é bastante comum no Brasil e em todos os países tropicais por causa dos raios ultravioletas. A incidência do problema é grande entre pescadores e surfistas”, diz Centurion.
Geralmente, o paciente com pterígio queixa-se de sensação de corpo estranho, ardor ocular e olhos vermelhos. Pode haver também sinais de conjuntivite crônica, espessamento da conjuntiva e sintomas de conjuntivite moderada. “O diagnóstico é feito através do exame físico e complementado pelo exame biomicroscópico. O tratamento do pterígio é cirúrgico e pode ser indicado tanto por razões estéticas, quanto pela diminuição da acuidade visual”, diz o oftalmologista.
Tratando o problema, sem recidivas
“Quando o crescimento do pterígio sobre a córnea ultrapassa 2,5 mm, há distorção da curvatura corneana, com repercussão sobre o erro refracional. Se negligenciado, o pterígio pode, ocasionalmente, aumentar ainda mais, encobrindo parcial ou totalmente o eixo visual”, destaca a oculoplasta do IMO, Fernanda Takay.
A indicação do oftalmologista pela realização da cirurgia é feita quando há ameaça real à visão ou se esta já se encontra comprometida. “Uma vez decidida a remoção do pterígio, temos optado pela técnica cirúrgica que utiliza o transplante conjuntival, que abrange a exerese de pterígio e a reconstrução com transplante de conjuntiva. Esta técnica proporciona bons resultados estéticos e taxas de recidiva muito baixas. Técnicas mais antigas, como a técnica de esclera nua, conhecida como raspagem, geram taxas de recidiva elevadas, que, quando ocorrem, são motivo de grande contrariedade para o paciente”, explica a oculoplasta.
A cirurgia que emprega o transplante conjuntival dura cerca de 40 minutos. “A anestesia do olho é feita com colírio, podendo ser também tópica e local. Após a remocão do pterígio, é retirada a conjuntiva doadora do quadrante supero-temporal, que é suturada, no leito escleral. Os pontos são causa de irritação leve até sua remoção, ao final da primeira semana. O transplante assume um aspecto natural, em cerca de 15 dias ”, diz a médica.
Para diminuir a possibilidade de recidiva do pterígio foram associadas várias alternativas terapêuticas, que se mostraram eficazes, porém apresentando um potencial para complicações, “como o uso de radiação ou drogas como a mitomicina, tiotepa e 5-fluoracil, que podem levar a afinamentos corneano e escleral, necrose escleral, perfurações, retardo de epitelização e ulcerações corneanas, retrações conjuntivais e, até mesmo, ao desenvolvimento da catarata”, explica o oftalmologista.
Nem todos os casos de pterígio podem ser operados com transplante de conjuntiva. “Quando existem dois pterígios no mesmo olho, um nasal e outro temporal, quando eles são muito extensos e não existem áreas doadoras de conjuntiva sã, quando existem simbléfaro ou cicatrização conjuntival acentuada, o transplante de conjuntiva não deve ser realizado”, alerta Fernanda Takay.
Casos mais difíceis e raros, como os citados anteriormente, podem ser tratados utilizando-se a membrana amniótica humana, obtida de parto cesariano. “A membrana amniótica possui propriedades únicas – inclusive antimicrobiana, anti-inflamatória, anticicatricial e antiadesiva – e é considerada uma excelente opção quando não existe área doadora de conjuntiva, apresentando índices igualmente baixos de recidiva do pterígio”, afirma a oftalmologista.
Pode-se obter a membrana amniótica de qualquer parto cesariano desde que haja, comprovadamente, ausência de infecções. “O mais indicado, contudo, é adquiri-la de empresa idônea, que garanta a ausência de infecções maternas, como: HIV, hepatite, sífilis e patologias sistêmicas”, explica Fernanda Takay.
A oftalmologista cita também outra técnica cirúrgica de remoção do pterígio que proporciona um bom resultado estético associado a uma taxa de recidiva baixa: “a rotação de retalho conjuntival. Nestes casos, a conjuntiva superior é rodada para ocupar o leito do pterígio previamente ressecado”, explica Fernanda Takay.
Reprodução: SIS Saúde
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