A
importância dos Dentes para o Coração
Qual a relação entre saúde
bucal e doenças do coração?
O comprometimento da saúde
bucal está diretamente associado à endocardite infecciosa. A doença afeta o
coração e pode comprometer as funções vitais, exigindo uma internação
prolongada. A endocardite é responsável por uma alta morbidade e por
significativas taxas de mortalidade. Em torno de 20% dos doentes não
sobrevivem.
Qual é o quadro, hoje, da
endocardite?
O Incor, que é um centro de
referência na doença, registra a cada mês dez a doze pacientes com endocardite.
Cerca de 40% destes casos têm origem bucal e são descobertos tanto por
infecções espontâneas, resultantes de dentes ou gengivas em mau estado, quanto
pela manipulação de área infectada para tratamento odontológico. Nestes casos,
o que provoca a doença é a bactéria Streptococcus viridans, que habita
normalmente a boca, sem provocar qualquer dano. Mas, ao entrar na circulação,
esta bactéria vai parar no coração e pode provocar a endocardite.
Qual é o principal grupo de
risco?
Portadores de doenças ou lesões
de válvula cardíaca e cardiopatias congênitas, como o sopro no coração. A
pessoa com lesão em válvula ou cardiopatia congênita deve ter a máxima atenção
com a saúde bucal. E havendo necessidade de algum tipo de manipulação dentária,
deve identificar-se ao dentista como portador de tais doenças e levar
declaração do cardiologista de que precisa tomar um antibiótico preventivo,
antes de qualquer intervenção.
Qual é o procedimento, no
Incor, para estes pacientes?
O Instituto do Coração possui
um serviço de odontologia e todos os pacientes, antes de cirurgias de válvulas
ou doenças congênitas, fazem uma completa avaliação dentária para eliminar
focos de infecção. Este trabalho visa à prevenção da endocardite no pós-operatório.
Com base neste acompanhamento,
o que se observa em relação à saúde bucal dos cardiopatas?
Para se ter ideia da gravidade
da situação, entre os pacientes que freqüentam nossos ambulatórios de
cardiopatias valvares, apenas 10% podem ser considerados com boa saúde bucal.
Ou seja, 90% de nossos pacientes têm problemas bucais de alguma natureza. Em
geral são pessoas que não tem cuidado odontológico, não costumam ir ao dentista
com freqüência ou não realizam higiene adequadamente.
A endocardite é a única doença
associada à saúde bucal?
Pesquisas têm associado às
infecções, inflamações e outras afecções de gengiva com a arteriosclerose, que
podem comprovar a correlação da saúde bucal com a ocorrência de infarto. Apesar
de incipientes, estas pesquisas têm boa base científica.
Como é avaliada a postura dos
cirurgiões dentistas frente a este quadro?
As novas gerações já têm boa
formação e vêm desenvolvendo uma mentalidade clínica. É necessário aprofundar o
conhecimento na área médica, mas o que se vê é que há todo o interesse em
aprender e melhorar a formação. É muito importante que o profissional se
conscientize dessa necessidade e possa fazer uma avaliação mais global do
paciente
Qual o principal cuidado no
consultório?
A palavra chave é o sopro. Ao
identificar um paciente com sopro, o dentista deve fazer a prevenção primária,
orientando sobre a escovação e uso do fio dental. Também deve tomar cuidados
adicionais, porque é fundamental que a manipulação seja feita com bastante
assepsia. Antes de iniciar o tratamento, devem-se administrar doses preventivas
de antibiótico. O mais importante, nestes casos, é a comunicação entre o
dentista e o cardiologista, para trocar informação e orientar, adequadamente o
atendimento ao paciente.
Que benefícios esta integração
pode trazer ao paciente?
Ela possibilita uma visão
holística da saúde. Afinal, a saúde bucal faz parte de um quadro geral do
organismo e muitas doenças têm expressiva repercussão na gengiva e nos dentes. O
dentista que tem esta visão mais genérica pode, inclusive, diagnosticar riscos
ou doenças já instaladas que, muitas vezes, não são percebidas pelo paciente.
Em que situações isso ocorre
com mais frequência?
São muitos os casos de reações
medicamentosas onde a boca funciona como um alarme e as mais diferentes
manifestações devem ser consideradas. Determinados antibióticos, por exemplo,
descolorem os dentes. Periodontites podem sugerir diabetes e outros tipos de
afecções podem indicar quadros de leucemia ou AIDS. Os dentistas precisam fazer
estes diagnósticos e orientar o paciente a procurar o médico.
Ou Seja, cuidar da saúde dos
dentes é cuidar da saúde do coração, fique espero!
Equipe de Enfermagem do ITB Prof. Moacyr Domingos Sávio
Veronezi
João Batista Pereira Nunes (COREN: 695.354)
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